Na pintura de Van Ostade, pode-se perceber a admiração das crianças e da mulher pelo trabalho do jovem que abre o peixe.
A idade do jovem trabalhador é indefinida, assim como seu rosto, tampado pela sombra de seu chapéu.
Curiosamente, o vendedor tem tamanho intermediário, como que completando a “escadinha” das crianças presentes no quadro.
Até o bebê se interessa pelo trabalho do jovem. Os outros dois irmãos observam com o mesmo meio-sorriso da mãe. A admiração parece ser o traço que os une.
No século XVII, quando o quadro foi pintado, a Europa começa a viver os efeitos da Reforma (século XVI). O trabalho em si começa a ser valorizado. O indivíduo começa a ser valorizado. O trabalhador é a união destes dois pólos valorativos: o sujeito que trabalha. Talvez, para usar a lógica protestante, para agradar a Deus, para ser salvo.
É importante observar, então, como a arte participa na formação da ideologia. Como a representação de um fato social não é gratuita, não é meramente “artística”. Há uma série de valores em jogo na criação artística que vão muito além da estética.
Uma curiosidade: observe no canto inferior esquerdo o cesto do vendedor de peixes.
Examine agora outro quadro de Van Ostade, A vendedora de Peixe [http://rijksmuseum.nl/assetimage.jsp?id=SK-A-3246], e veja um personagem, também no canto inferior à direita, de costas, com chapéu semelhante ao deste jovem vendedor, carregando um cesto também semelhante.
Seria o vendedor deste quadro (1661) filho da vendedora de peixes (1672)? Talvez, para contrapor a família que compra o peixe à família que o vende?