A foto acima é um altar montado pelo Estado. São as cabeças de Lampião e seu bando. Vejam o espetáculo armado durante o governo de Getúlio que venceu o maior dos cangaceiros.
Observem nos detalhes. Para falar com Barthes: observem o obtuso. As máquinas de costura, nos extremos da imagem, mais acima. Os chapéus enfeitados, os adereços brilhantes.
Expor a cabeça do inimigo com suas armas. A cabeça de Lampião é a que está mais abaixo. Altar às avessas: agora, ele já não manda nada.
Por que esta produção de acéfalos? Esta produção sagrada de acéfalos?
A cabeça de Lampião ficou no museu de Salvador até 1964. Exposta ao público. À la Lênin… Diz a lenda que foi Antônio Carlos Magalhães quem mandou enterrar a cabeça do famigerado “inimigo do Estado”. Disseram que a Bahia não crescia porque o espírito de Lampião não descansava. Ao som dos atabaques e sob o olhar cuidadoso de muitos Orixás, enterraram a cabeça do desgraçado. A Bahia, aí sim, pôde, enfim, crescer.
Além dessa imagem, analiso o fenômeno do cangaço em minha tese de doutorado: Violência e Dominação em Sargento Getúlio, de João Ubaldo Ribeiro. Ela pode ser lida em:
http://sites.google.com/site/fabiobelo76/Home