Na aula de 22 de janeiro de 1975, do curso Os Anormais, Michel Foucault nos fala dos monstros. Ele nos lembra que a noção de monstro é essencialmente uma noção jurídica. O monstro é aquele que viola as leis: da sociedade, da natureza. Basta existir para que ele já esteja infringindo as leis. O monstro combina o impossível com o proibido.
Parece que o direito sempre está a questionar: “qual é o grande monstro natural que se oculta detrás de um gatuno?” (p. 71). Em Lombroso essa questão fica especialmente visível.
O primeiro monstro apontado por Foucault é o misto. A mistura de espécies, de indivíduos, de sexos, de vida e de morte, de formas. Transgressões, portanto, dos limites naturais.
Gostaria de ilustrar essas transgressões com algumas imagens que se encontram no final do século XVIII, num livro chamado Les Écarts de la Nature, de F. Regault (1775). Retirei essas imagens do livro de Didi-Huberman, La Ressemblance Informe.
Os siameses aparecem como uma “mistura” de corpos, de indivíduos.
Observem: um crânio, várias faces. Observem ainda a “pose” da mão do monstro: algo clássico.
Uma terceira imagem, semelhante à primeira, invertendo as posições dos siameses.
Uma outra imagem do monstruoso, talvez naquilo que ele tem de grotesco. A figura é intitulada “Le petit Pépin, exposé en spectacle à Paris en 1757 et 1758”:
Monstro de circo. Observem como já há diferentes lugares para a observação do monstro: o direito, o circo, o hospital. Ele freqüenta muitos discursos ao mesmo tempo. Obviamente, estamos muito próximos do campo da fantasia, do surreal.
Mais uma vez, a postura clássica de um corpo musculoso, porém, sem membros e sem cabeça. Um monstro que, por assim dizer, não perde a classe…
Terminemos com essas duas obras de Picasso. Apenas para que comparemos, a partir do pensamento de Bataille, como o corpo vai ser representado – e desconstruído. Para longe da figura ideal, aparece o monstro.