Tive a oportunidade de ouvir o Prof. Vladimir Safatle proferindo palestra aqui em Belo Horizonte, no dia 27 de agosto de 2008. Seu texto versava sobre a necessidade de o Brasil julgar a Ditadura que governou o Brasil de 1964 a 1984. Seu argumento é poderoso. Resumo a seguir.
Para Safatle, o argumento de que mexer na lei de anistia trará instabilidade para o país é falso. Argentina e Chile fizeram julgamentos de seus ditadores e nem por isso voltaram ao governo militar.
Para o autor, o contrário talvez seja mais verdadeiro: não julgar o que aconteceu é manter o cadáver insepulto, como ocorreu com Polinices, na Antígona. Foi isso que levou Tebas à ruína. É preciso reconhecer os nossos inimigos.
Quando algo não tem lugar no simbólico acaba retornando no real. A crença de que “nada ocorreu” é nefasta pois faz aparecer no real da política brasileira o horror de uma república de mentira: votos comprados, leis “que não pegam”, desigualdade social aviltante…
Nossa democracia tem o caráter completamente deformado. Está longe de se constituir um Estado Democrático de Direito. Pesa sobre ela os cadáveres das vítimas da ditadura que exigem reparação justa pelos crimes cometidos pelo Exército.
É preciso pensar de novo, de forma radical, a lei da anistia. Lei que exige esquecimento daquilo que não se pode e nem se deve esquecer. É preciso julgar de forma clara e pelas vias legais da República os responsáveis pela ditadura militar. Só assim teremos uma base sólida para escapar de uma democracia de mentira – regime sob o qual vivemos no Brasil.
O texto do Prof. Safatle ainda não foi publicado. Assim que tiver notícias disso, coloco o link aqui no blog.
De qualquer forma, seu texto uniu, de forma soberba, psicanálise e política. É preciso parar de mentir e fingir que nada aconteceu ou de que está tudo perdoado. Não está. Só pode haver perdão se houver julgamento.