Há um capítulo inacabado da segunda parte de Economia e Sociedade, de Max Weber, chamado “O mercado”. É um texto curtíssimo, mas que merece ser lido com atenção.
O ponto que quero destacar é uma tensão. Primeiro, Weber diz que o mercado, devido a sua racionalidade pura, cujo objetivo precípuo é a troca, é estranho, já na raiz, a toda confraternização. Ou seja, o o mercado considera a coisa e não a pessoa. Todavia, no final do texto, Weber lembra que a troca é a forma especificamente pacífica de obter poder econômico. Em outras palavras, o exercício do mercado constitui a comunidade política e evita outras formas (violentas) de apropriação de bens.
À primeira vista, a tensão se traduziria assim: o mercado é impessoal e “impessoalizante”, mas, como desejam muitos liberais, ele é também a melhor forma de mantermos a paz entre nós – mesmo que esse “nós” seja cada vez mais reduzido a “parceiros comerciais”.
A tensão, acredito, se desfaz se lembrarmos que as condições dos participantes no jogo do mercado não são as mesmas. As condições sociais de empoderamento – inclusive do poder de participar do “livre” jogo das trocas – não são iguais. Longe disso: essas condições são permanentemente articuladas pelos mais diversos jogos de poder: ora altamente favoráveis, ora terrivelmente estáticas.
Enfim, uma leitura instigante: clique aqui para acessar o texto.