“(…) dass hier zwischen Sexualtrieb und Sexualobjekt eine Verlötung vorliegt (…)” [Freud, GW, V, 46] – (…) que entre a pulsão sexual e o objeto sexual há uma solda.
A tradução brasileira (ESB, VII, 138) traz ainda nessa frase “apenas uma solda”, reforçando a ideia que vem adiante, quando Freud nos convida a afrouxar (lockern) os laços / as associações (die Verknüpfung) entre a pulsão e o objeto.
Há quem pense que a metáfora da solda em Freud aponta para uma fixação impossível de se desfazer. Prefiro pensar que a metáfora aponta fundamentalmente para a contingência dessa ligação entre o objeto e a pulsão. Não penso que essa ligação esteja feita de uma vez por todas. Claro: trata-se de alguma fixação, mas não alguma coisa fusionada. Como na solda real, as cicatrizes estão lá… e caso haja uma grande tensão é justamente na solda que ocorre o rompimento entre as partes.
Tudo isso para dizer que ouvi hoje uma canção do CD “O Silêncio”, de Arnaldo Antunes. Ele diz:
o que signifinca isso?
o que swingnifica isso?
o que signifixa isso?
Essa bela brincadeira com o verbo significar pode nos ajudar a entender como essa “solda” funciona no que tange à pulsão de saber. Quando signficamos algo, “ligamos” uma coisa à outra. Entre o swing e a fixação: o aprender, o pensar, se situa aí. Não estamos o tempo todo no vai-e-vem das possibilidades de ligação, nem o tempo todo fixados em sentidos imutáveis.
(Pensemos no inferno do surto psicótico: um objeto que não cessa de emitir sentidos infinitamente… ou uma infinidade de objetos emitir o mesmo sentido sempre).
A música nos diz ainda que essa pergunta é endereçada, mas para além da obviedade: “o motorista motora, o advogado advoga”… ninguém sabe o que swingnifica / signifixa / significa isso.
Talvez porque, justamente, é a partir d’isso que significamos: essa parte – a um só tempo estrangeira e interna a nós mesmos – à qual tentamos dar sentido.