Blog

O impossível amor no complexo de inferioridade

11/04/12

Há um paradoxo curioso a se observar naqueles afetados por um complexo de inferioridade. Tão logo entram numa relação amorosa, passam a desconfiar do outro: “Por que ele me ama? Afinal, não sou digno de amor…”. No fundo, passam a considerar o outro tão desprezível quanto ele: “se ele me ama, é porque não teve condições de arrumar nada melhor que eu”.

Ser amado para algumas pessoas está longe de ser algo tranquilo. A solidão buscada por esse tipo de sujeito é um tipo de prova que ele busca reassegurar de seu pouco valor.

Muitos se sentem tentados a retirar o outro dessa solidão. Seria um grande prêmio: “ele nunca amou ninguém, mas eu vou conseguir levá-lo até o amor!”. Dificilmente, porém, tal tarefa termina bem. O mais comum é que o outro termine acusando-o de “egoísta”, “frio”, “indiferente”.

O complexo de inferioridade é a repetição infernal da situação na qual o bebê pede carinho da mãe e não recebe. Recebe apenas “cuidados básicos”, mas não recebe esse “algo a mais”, o brincar, o erótico, a alegria que uma mãe poderia sentir em atender uma demanda amorosa de seu bebê.

O que o sujeito quer reproduzir é fazer o outro sentir esse desprezo originário tal como ele sofreu. E além disso, quando esse outro não suportar mais e abandoná-lo, quer se certificar de que ele sobrevive a mais um abandono, de que a solidão é mesmo o lugar mais seguro para se estar.

Pensar na clínica desses pacientes implica, do lado do analista, em saber suportar grandes doses de desprezo. Idas e vindas, sumiços da análise, críticas ferozes. Só através desse “suporte” será possível, bem mais tarde, fazer com que o sujeito reconheça que pode ser amado.