Blog

Duas metáforas do amor

13/05/12

Recentemente, vi duas metáforas do amor. A primeira compara uma moça a um livro aberto que lamenta sempre encontrar em seu caminho amantes analfabetos:

Amantes Analfatbetos

Tal imagem não me parece interessante, pois pressupõe que teremos sempre alguém que saberá nos ler “adequadamente”. Nesse sentido, sempre poderemos culpar o outro por uma leitura equivocada. Sempre poderemos alegar que temos acesso privilegiado ao texto, afinal, o texto é nós mesmos. Essa metáfora não é interessante pois coloca o sujeito permanentemente numa posição passiva. A mulher – no desenho – é sempre passiva e sempre precisará de um outro para existir. É claro que a metáfora da leitura como um todo seria bem importante para a psicanálise. No entanto, apenas se cada um fosse leitor e livro um do outro. Não é possível ocupar uma posição apenas nesse jogo.

Metáfora mais interessante a meu ver é proposta numa obra chamada “marcas/máculas do tempo”, de Ruby Chishti:

Blemishes of Time IV - Ruby Chishti

Observem como a artista coloca os sujeitos em igualdade. Os dois têm sua cumbuquinha e os dois suas torneirinhas. O título da obra talvez brinque com uma ambiguidade: blemish pode ser marcar e também macular. Os dois amantes, então, poderiam tirar as marcas e as sujeiras um do outro. Observem como nessa metáfora a passividade deixou de ser um ponto fundamental. É claro que ela pode aparecer: um amante pode recusar usar sua cumbuca e acreditar que apenas ele deve ser “lavado”…

A partir de Laplanche, sabemos, o amor é a reabertura da situação originária. A passividade sempre estará em cena. Isso não quer dizer que tenhamos que nos colar a essa posição. É possível acolher algo da passividade sem estar completamente submetido a ela.